No meu tempo (sempre quis dizer isso) a gente já nascia sabendo: política, futebol e religião eram assuntos fora de discussão. Tudo pela cordialidade, uma marca que já foi mais característica de nossa população. Já foi porque hoje está tudo um pouco diferente.
No disputadíssimo jogo da vida, o homem cordial está sendo aos poucos substituído pelo torcedor fanático e as polêmicas, antes evitadas, hoje são provocadas. Não existem mais diferenças entre a política e o futebol, quase coirmãos convivendo em eternos e sangrentos clássicos Direita x Esquerda.
Dos três tópicos “sagrados”, o que ainda consegue manter sua aura intocável – apesar de haver muita intolerância solta por aí – é a religião, a devoção à Deus, aos nossos queridos santos, pra quem é de santo, e aos queridos orixás, pra quem é de orixá. O brasileiro sempre foi um povo muito apegado às suas crenças.
Tão apegado que, em alguns casos, deposita todas as suas fichas na intervenção divina, última tábua de salvação. Nada contra a fé, quem sou eu. Cada um acredita no que quiser e como quiser. Mas levar a vida esperando um milagre acontecer funciona tão bem quanto xingar o santo porque o bendito não aconteceu. Ou seja, não vai mudar nada. No máximo aborrecer o homem lá em cima…
O grande problema é a incessante busca pelo mais fácil, pela vantagem. É como aquele cara que critica seu médico, mas não compra ou não toma os remédios conforme a prescrição. É como a moça que está acima do peso, vai ao nutricionista e continua se enchendo de gordura, com os mesmos hábitos alimentares e aguarda que a “consulta” opere o milagre. É como o empresário que inicia uma consultoria financeira e já começa a gastar mais, porque suas finanças vão entrar nos eixos. Lógico que vai dar errado.
Curioso é observar que no dia a dia do mundo corporativo esse tipo de comportamento é cada vez mais recorrente. No caso da comunicação principalmente. Publicitários, marketeiros, alguns profissionais são alçados ao posto de “cavaleiros da esperança”, como se sua simples presença fosse capaz de trazer a luz de volta para o negócio.
Só que de nada adianta um conceito criativo poderoso, de nada adianta uma ideia que vai revolucionar o mercado se o empresário não tiver a consciência de que também é fundamental comprar e tomar os remédios conforme a prescrição.
Caso contrário, a única saída vai ser esperar o milagre acontecer. E, se ele não acontecer, dar uma coça no santo.