Que nossos clientes não leiam este artigo. Mas refação é fundamental. Para os não tão familiarizados com o termo, uma breve explicação: não há nada mais odiado na indústria da comunicação. Pelo menos para a ala criativa do negócio.
Como o próprio neologismo sugere, refação é o ato de refazer um trabalho. É a ferramenta que empodera o cliente e deixa departamentos de criação em pânico. Pra não falar outra coisa. Mas isso não vem ao caso. O objetivo aqui é demonstrar o quão poderoso pode ser o instrumento da refação, se bem digerido pelo ego dos criativos brasileiros.
São diversos os motivos que levam um cliente a sugerir alterações em um trabalho. Que vão desde os mais óbvios e inerentes à cada tipo de negócio, passam pela interpretação do briefing e podem chegar até à simples vontade de colocar a sua marca pessoal no job. Ainda que isso signifique incluir um pequeno traço. É, faz parte…
Também é fato que a irritação gerada pelos pedidos de refação passa muito perto da incapacidade de lidarmos com a rejeição. Sim, você teve uma ótima ideia, o texto está impecável, a direção de arte merece um Leão em Cannes, mas a campanha simplesmente não mexeu com os sentimentos do cliente. Ele não viu sua marca ali representada. Isso por si só já poderia gerar um alerta. Em mercados onde as pesquisas são raríssimas, como o nosso do interior, as campanhas são testadas na rua. E se seu cliente não foi impactado, não seria um sinal de que algo pode estar errado? Fica a dica para uma humilde reflexão.
Todos nós temos uma enorme capacidade de achar que somos infalíveis. É muito por isso que considero a refação um ato didático, quase disciplinador, um alerta de que não, não somos infalíveis, que nos traz de volta à dura e cruel realidade.
Ela é uma das mais poderosas ferramentas da comunicação. Que massacra, machuca, e faz o criativo, infantilmente, odiar com todas as forças o cliente. Quando, na verdade, deveria servir como um momento de libertação: de libertação da nossa zona de conforto.
