Minha avó Litinha – que Deus a esteja guardando em bom lugar – sempre me dizia: nada em excesso faz muito bem. Quase uma herança familiar, o conselho é repetido por minha querida mãezinha, especialmente naqueles momentos em que não estamos querendo ouvir, ou seja, naqueles que mais precisamos. Como já dá pra imaginar, trata-se de uma ideia que sempre me perseguiu, ainda que eu nunca tenha percebido a força dessa influência.
Essa influência tem raízes tão fortes que, por exemplo, me fazem detestar água muito gelada. E também as quentes demais. Acho que por isso desenvolvi ao longo do tempo uma equação quase perfeita para um bom copo d’água: 70% é cheio de água gelada e os 30% restantes completos com água quente. O máximo a que me permito é um 60 x 40 nos dias mais frios.
Assim, considero o equilíbrio fundamental em todos os aspectos das nossas vidas. Apesar de algumas vezes ser quase impossível mantê-lo. Beber demais é um risco, a gente sabe bem. Mas de menos também é prejudicial (que me perdoem os abstêmios). Tem aquela história, né, de que não se “faz amigos bebendo leite”… O fato é que levar a vida num eterno Flamengo x Vasco, PT x PSDB, Bem x Mal, essa lógica maniqueísta daninha, não é legal.
E o mesmo vale para a comunicação. Hoje vivemos em um mundo predominantemente digital, conectados 24 horas por dia em nossos onipresentes smartphones. Essa evolução traz consigo previsões catastróficas sobre o futuro da mídia tradicional, como se veículos não fossem capazes de se reinventar. Como se o “on” não pudesse viver com o off-line.
Quando na “verdadeira verdade”, um não vive sem o outro…
O digital é sim muito importante e uma ferramenta espetacular de comunicação. Como já dissemos aqui em conversas anteriores, ele é uma realidade que vem transformando a forma como as marcas se relacionam com seus consumidores. Cada vez mais e mais.
Mas a mídia tradicional está longe de perder a sua grande força de comunicação. Estudo recente da Advertising Research Foundation (ARF), dos Estados Unidos, divulgada na conferência Re!Think 2016 estima que os anunciantes norte-americanos estão subutilizando cerca de U$ 31 bilhões anualmente porque falham ao dividir o orçamento por todas as mídias necessárias. Segundo os especialistas, esse foi o mais extensivo levantamento sobre investimentos em mídia feito nos últimos 25 anos!
E olha que interessante: o estudo constatou que um orçamento de marketing que destina 78% da verba para a mídia tradicional e 22% para a digital funciona melhor para a audiência em geral. Para o público entre 18 e 34 anos, a divisão ideal é um pouco diferente: 71% a 29%. Ou seja, quase aqueles “70 x 30 da água”, números muito distantes do que pregam os especialistas “de botequim”.
Tanto o digital quanto os veículos de comunicação de massa são ferramentas poderosas. Cada um cumpre – muito bem, diga-se de passagem – o seu papel. O ideal é montar planos de mídia equilibrados, analisando os impactos de cada veículo e suas audiências, sem paixões, sem preconceitos, sem excessos.
Sem transformar esse processo em mais uma guerra, onde é preciso escolher um vencedor e um perdedor.